Chroma Engenharia
Por Vasco Fleury
14 de novembro de 2017
6 min. de leitura

O porquê da tendência de aumento da tarifa de energia elétrica na próxima década

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Já está mais do que na hora dos consumidores adquirirem hábitos de uso racional de energia através da utilização de programas de Eficiência Energética, que abrangem a adequação da iluminação, da climatização dos ambientes e de motores diversos, visando à conservação de energia e a consequente redução do consumo de energia elétrica. Como iremos demonstrar mais adiante, é a única alternativa do consumidor para atenuar o aumento da tarifa de energia elétrica que vem acontecendo nos últimos 2 anos e que continuará sendo praticado nos próximos anos.

No entanto, antes de entrarmos nos fatores que certamente levarão a um aumento da tarifa de energia elétrica na próxima década, cabe uma análise sucinta do último Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica – PDE 2.026, efetuado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, o qual foi lançado oficialmente em julho de 2.017.

Segundo o PDE 2.026 a evolução da capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil ocorrerá conforme demonstrado abaixo:

 

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Algumas reflexões sobre o PDE 2.026

  • A geração através de fonte hidráulica, que está atualmente no patamar de 60% da matriz, vai cair para algo em torno de 49%, com o agravante de algumas usinas implantadas nos últimos anos, representado mais de 20.000 MW, terem sido concebidas como usinas “a fio d’água”, ou seja, sem reservatório, ou com reservatórios em dimensões bem inferiores ao que poderiam ter, tendo como consequência a impossibilidade de reservar água, o que resulta na impossibilidade de reservar energia, e esta é uma tendência futura na projeção do PDE 2.026: Usinas Hidrelétricas “a fio d’àgua” (veja também o nosso artigo sobre o PDE 2.024).
  • A evolução da capacidade instalada para as outras fontes renováveis (Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH, Eólica, Biomassa e Solar) vai atingir o patamar de 30% da matriz em 2.026. Apesar de uma projeção de crescimento de 120% em uma década, este percentual é muito pequeno ainda quando verificamos o potencial do Brasil, principalmente no que tange a energia eólica e solar fotovoltaica.
  • As fontes não renováveis (Urânio, Gás Natural e Carvão) – já considerando a Alternativa Indicativa de Ponta -, aumentarão a sua participação na matriz, o que é uma incongruência total.
  • Esta incongruência é fruto de uma política energética equivocada implantada no Brasil nesta última década, período no qual, por motivos ambientais, inibiu-se a evolução de uma fonte hídrica, cujas questões ambientais, principalmente para o caso de usinas hidrelétricas a fio d’água, são perfeitamente mitigáveis, e aumentou-se a participação de usinas térmicas – que utilizam como combustível o óleo diesel e gás natural, entre outros -, gerando ao final deste ciclo muito mais impacto ambiental, sem falar no custo de produção altíssimo para este tipo de fonte.
  • Tanto é que, segundo o próprio PDE 2.026, com a queda de participação das Fontes Renováveis na matriz de energia elétrica do Brasil, haverá um aumento da emissão de Gás de Efeito Estufa do Setor Elétrico de 43 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e), chegando a 62 MtCO2e em 2.026.
  • A Eficiência Energética, que significa realizar o mesmo, ou mais, serviço energético com menor quantidade de energia, foi considerado no PDE 2.026, ou seja, foi estimado que em 2.026 a energia elétrica conservada chegará ao montante de 7.000 MW (correspondente a parte brasileira da UHE Itaipu), caso contrário chegaríamos a 2.026 com uma capacidade instalada de aproximadamente 220 GW, ao invés de 212 GW previstos no PDE 2.026.
  • De maneira análoga, a Geração Distribuída, regulamentada em 2.012 pela ANEEL (Resolução Normativa – REN n° 482), a qual permite a micro e minigeração distribuída, também foi considerada no PDE 2.026, significando que em 2.026 teremos no Brasil cerca de 770 mil adotantes de sistemas fotovoltaicos sob o regime da REN 482, totalizando 3,3 GWp, suficiente para atender 0,6% do consumo total nacional.

 

A tendência de aumento da tarifa de energia elétrica

Isto posto, vamos aos principais fatores que acreditamos serem os responsáveis pela tendência de aumento da tarifa de energia elétrica na próxima década.

  • A implantação das usinas hidrelétricas (a fonte mais barata do Setor Elétrico) será desmotivada, por questões socioambientais e não por falta de potencial hidrológico (não vamos aprofundar esta questão polêmica aqui, pois merece um artigo só para tratar deste assunto), se incentivando, ainda que de maneira “tímida”, a construção de outras fontes renováveis, como eólicas e solar fotovoltaica.
  • Cabe ressaltar que as usinas fotovoltaicas e eólicas não são consideradas energia de base, pois são abastecidas por fontes intermitentes (sol e vento). Já as usinas hidrelétricas (que usam água como combustível) e as térmicas (que utilizam combustíveis fósseis) são consideradas como produtoras de energia de base, pois em condições de normalidade podem ser acionadas de forma contínua.
  • As usinas hidrelétricas a fio d’água, as quais serão a maior parte da geração hidrelétrica do Brasil em 2.026, não terão capacidade de armazenamento de água, para geração de energia posteriormente.
  • A combinação “desconfortável” de usinas hidrelétricas a fio d’água com usinas alimentadas por fontes intermitentes (eólicas e solares), resulta em demandas adicionais supridas por fontes não renováveis (usinas térmicas), o que é agravado em épocas de seca, fazendo com que as usinas térmicas sejam despachadas em condições normais de carga no Sistema Elétrico. As usinas térmicas, por utilizarem combustíveis fósseis, além de serem muito mais poluentes, representam as tarifas mais caras do Setor Elétrico, o que o consumidor brasileiro já vem sentindo no próprio bolso, desde 2.015, com a implantação das bandeiras tarifárias na conta de luz. Aliás, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, entre 2006 e 2017, a geração a partir de termelétricas aumentou 103% enquanto a hidráulica aumentou somente 34%.
  • Portanto, a não ser que o governo de “plantão” passe a praticar uma política de desoneração fiscal para o Setor Elétrico nos próximos anos, o que poderia minimizar o problema, mas infelizmente entendemos ser pouco provável, a tarifa de energia elétrica será significativamente majorada na próxima década, ainda mais se fatores hidrológicos desfavoráveis acontecerem, como aliás vêm acontecendo sistematicamente nos últimos anos, chovendo menos que a média anual nos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas.

Como citamos no início, só restará ao consumidor adquirir hábitos de uso racional de energia e procurar conservar energia elétrica através de um programa de Eficiência Energética para aplicar na sua residência e/ou na sua empresa, para tentar minimizar o aumento tarifário que deverá ocorrer nos próximos anos. Abordaremos oportunamente o assunto de Eficiência Energética em um Post específico.

Por outro lado, a opção de utilização de Geração Distribuída, através da geração com placas solares fotovoltaicas, por exemplo, para geração de energia elétrica na própria residência e/ou empresa, está cada vez mais sendo viabilizada para a adoção por uma maior parcela da população, com recentes isenções tributárias sobre a energia compensada pela unidade consumidora, pelo próprio reajuste das tarifas de eletricidade acima da inflação nos últimos dois anos e pela redução no preço dos sistemas fotovoltaicos. No entanto, a instalação de um sistema solar fotovoltaico ainda representa um investimento relativamente alto para a grande maioria da população. Devido à importância deste tema, também o abordaremos em um Post específico sobre o assunto.

Caso seja de seu interesse, entre em contato conosco para aprofundarmos este assunto e trocarmos algumas ideias a respeito.

 

Até a próxima!

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